A reação de Briggs–Rauscher: uma dança oscilante de cores
A reação de Briggs–Rauscher é conhecida por seu comportamento oscilante, exibindo transições sucessivas entre as cores âmbar, azul-escuro e incolor. A montagem pode envolver peróxido de hidrogênio (H₂O₂) à 10 volumes, 1,2 g de iodato de potássio (KIO₃) dissolvido em ácido sulfúrico 0,1 mol/L, 1 cm³ de amido a 1% em uma mistura de 0,4 g de ácido malônico e 0,09 g de sulfato de manganês(II) monoidratado em água deionizada.
O mecanismo da reação de Briggs–Rauscher é bastante complexo. As principais reações envolvidas, segundo Arroio e colaboradores, são:
- Formação de HOI catalisada por Mn²+: IO3- + 2H2O2 + H+ → HOI + 2 O2 + 2 H2O
- Redução parcial de HOI por H₂O₂: H2O2 + HOI → I– + O2 + H+ + H2O
- Oxidação de I⁻ a I₂: I– + HOI + H+ → I2 + H2O
- Reação do I₂ com ácido malônico: I2 + CH2(COOH)2 → ICH(COOH)2 + H+ + I–
A oscilação resulta da alternância entre o processo radicalar (predominante quando [I⁻] é pequena) e o não-radicalar (quando [I⁻] é elevada). O processo radicalar promove a rápida geração de HOI, levando à formação de I₂, que se acumula no meio reacional e confere à solução a cor âmbar.
Quando o HOI é produzido mais rapidamente do que é consumido, o excedente é reduzido pelo peróxido de hidrogênio, aumentando a concentração de I⁻. Ao atingir determinada concentração, o processo não-radicalar passa a dominar, produzindo HOI em velocidade muito menor; assim, o I₂ é consumido mais rápido do que se forma e a cor âmbar desaparece.
A tonalidade azul-escura surge quando a concentração de I- for superior à concentração de HOI, sendo suficientemente alta para reagir com o I₂ e produzir o íon triiodeto (I₃⁻). Esse íon I3- se liga à amilose do amido, originando o complexo azul escuro. À medida que o ácido malônico consome o I₂, a concentração cai abaixo do necessário para manter o complexo, e a solução volta a ficar incolor. Mediante a redução [I⁻], o processo radicalar reinicia e o ciclo se repete.
Desde o início da década de 1970, a reação de Briggs–Rauscher atrai atenção pelo impacto visual, sendo uma das mais impressionantes demonstrações de sistemas oscilantes.
Fonte: Arroio, 2006; Flemming, 2025; Briggs & Rauscher, 1973; Kapral, 1985; Noes et. al., 1982; Colorado, 2025
Referências:
FLEMING, D. Oscillating magic. Royal Society of Chemistry, 2019. Disponível em: https://edu.rsc.org/exhibition-chemistry/oscillating-magic/3010062.article. Acesso em: 11 ago. 2025.
BRIGGS, T. S.; RAUSCHER, W. C. An oscillating iodine clock. Journal of Chemical Education, v. 50, n. 7, p. 496, 1973. DOI: 10.1021/ed050p496
KAPRAL, R. Oscillating chemical reactions. Science, v. 229, n. 4716, p. 852-853, 1985. DOI: 10.1126/science.229.4716.852.
NOYES, R. M.; FURROW, S. D. The oscillatory Briggs-Rauscher reaction. 3. A skeleton mechanism for oscillations. Journal of the American Chemical Society, v. 104, n. 1, p. 45-48, 1982. DOI: 10.1021/ja00365a011
UNIVERSITY OF COLORADO BOULDER. Briggs–Rauscher reaction (oscillating clock). Lecture Demonstration Manual, 2025. Disponível em: https://www.colorado.edu/lab/lecture-demo-manual/x870-briggs-rauscher-reaction-oscillating-clock. Acesso em: 11 ago. 2025
ARROIO, A.; HONÓRIO, K. M.; WEBER, K. C.; HOMEM-DE-MELLO, P.; GAMBARDella, M. T. do P.; SILVA, A. B. F. da. O show da química: motivando o interesse científico. Química Nova, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 173-178, 2006.




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